E se não houver tempo?...
Caminho nesta vida sonâmbula e resignada ou não… rasgo o
silêncio com que me visto e me escondo
Neste murmúrio de impaciência avança a idade e com ela envelhecem
meus sonhos e sem eles não me sei guiar
Sou ave sem gaiola de espírito livre que sem projectos não
sabe voar
Não me privem de sonhar! Sonhos meus... que tantas e tantas vezes
me fogem como farinha numa peneira que se prepara para se materializar
Num alimento gostoso que medrou com calor e afecto de quem
com amor a soube amassar
E vacilo e a dúvida retoma… mas se não tiver tempo?
De abraçar, de beijar, de reencontrar …
Conhecer mundo, redescobrir a cidade e o país onde nasci
Mas que digo eu… deixai-me gritos indignados sei bem que são
uma verdadeira ignomínia
À vossa afronta não cederei
Tenho em mim uma fúria de viver e neste meu frenesim habita
a esperança e a fé
Acredito que a mente dos homens se abra e na complacência de
Deus
Um dia esta epopeia de luta irá vencer a praga destruidora
Aí, vou perseguir todos os sonhos adiados, sonhar outros nunca sonhados e despida de medo conquistá-los
Será mais um retalho de vida, da minha vida e de toda a
humanidade que ficará nos caminhos da memória…
Por ora... nas minhas palavras me
aninho, esqueço o medo que à noite me estremece e de dia se desvanece
arrepiando caminho
E atiro-me à vida com alma aconchegada
© Ana Sousa Simões